WASHINGTON, D.C. – Um boneco inflável gigante com o corpo amarelo e o cabelo roxo dá as boas-vindas a quem chega aqui no Hirshhorn Museum. O tamanho da instalação já dá a dimensão da importância da exposição OSGEMEOS: Endless Story para este museu de arte moderna e contemporânea no centro da capital americana.  Esta é
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WASHINGTON, D.C. – Um boneco inflável gigante com o corpo amarelo e o cabelo roxo dá as boas-vindas a quem chega aqui no Hirshhorn Museum.

O tamanho da instalação já dá a dimensão da importância da exposição OSGEMEOS: Endless Story para este museu de arte moderna e contemporânea no centro da capital americana. 

Esta é a maior retrospectiva já realizada nos Estados Unidos com obras dos brasileiros Gustavo e Otávio Pandolfo, os gêmeos idênticos conhecidos mundialmente como osgemeos (assim mesmo, tudo junto e sem acento, como eles assinam seus trabalhos).

Foram três anos de preparação para a mostra, que reúne aproximadamente mil peças, entre desenhos, grafites, pinturas, fotografias, instalações – e até roupas usadas pelos irmãos na década de 80, o auge do movimento hip-hop e uma grande fonte de inspiração para os dois.

A curadora Marina Isgro viajou ao Brasil para conhecer de perto o extenso acervo dos artistas, guardado em seu estúdio no Cambuci, em São Paulo, onde eles nasceram e ainda trabalham.  Marina também procurou entender melhor o mundo fantástico que eles reproduzem em muitas de suas obras.

Quando eram crianças, com cerca de cinco anos, Otávio e Gustavo descobriram um universo paralelo, que batizaram de Tritez. “Esse é um lugar mágico, espiritual e intenso, onde nos sentimos confortáveis e em harmonia. Assim que o descobrimos começamos a pintá-lo nas ruas de São Paulo, compartilhando todos os detalhes que vemos, com cores e paisagens lindas. Para nós esse é um lugar de imaginação pura.”  

Não é por acaso que a sala principal da exposição, que ocupa um andar inteiro do Hirshhorn, é dedicada a esse mundo fantástico. Está ali, por exemplo, uma das peças que saiu pela primeira vez do Brasil, o Altar Tritez (2020), uma estrutura colorida que abriga esculturas dos personagens amarelos, com feições largas, que se tornaram a marca registrada de osgemeos, e que, segundo eles, são sempre únicos e nunca haverá dois iguais.

Ao visitar OSGEMEOS: Endless Story, é possível ver de perto o caminho trilhado pelos irmãos paulistanos. Há vídeos e fotos deles ainda crianças, dançando break nas ruas da cidade ou fazendo aulas de arte na Pinacoteca.

A forte presença da família é palpável também em vários pontos dessa trajetória, seja nas roupas de hip-hop confeccionadas pela avó a pedido dos netos, as tapeçarias feitas em conjunto com a mãe, Dona Margarida, ou mesmo a tela pintada em colaboração com o irmão mais velho, Arnaldo.

Pode ser difícil conciliar o trabalho vibrante e extraordinário de osgemeos às figuras discretas de Otávio e Gustavo. Só mesmo quem já os conhecia anteriormente conseguia identificá-los na abertura da exposição para a imprensa. Tímidos e de fala mansa, os irmãos estão sempre um ao lado do outro, e quando descrevem as obras um complementa a informação do outro, da mesma forma que ambos respondem juntos a perguntas.

Embora já tenham exposto seu trabalho no exterior diversas vezes, inclusive em uma mostra bem recente na Galeria Lehmann Maupin, em Nova York, estar no Hirschhorn – em uma exposição que ficará em cartaz um ano inteiro – é um enorme reconhecimento internacional após o sucesso de Segredos, na Pinacoteca de São Paulo, em 2021.

“Na Pinacoteca a gente abriu nosso baú, guardado há anos. Lá tivemos a primeira experiência de como era mostrar nosso acervo, que sempre guardamos com tanto carinho – nossos desenhos, estudos, o desenvolvimento do nosso estilo,” revelam Gustavo e Otávio. 

“Agora Endless Story mostra uma continuidade, esse trabalho que nunca termina. E o museu aqui proporciona muito essa ideia também. Por ser circular, você visita todas as salas da exposição e quando você acaba, pode entrar de novo nela. Então não há um fim, na verdade.”

O processo criativo dos dois nunca para. Mesmo durante a montagem da exposição do Hirschhorn, eles continuaram a produzir novas peças no local. “Transformamos o museu no nosso ateliê. Muitas coisas fizemos aqui, quisemos trabalhar aqui para sentir essa energia circular do prédio.”

Apesar de muitas das criações de osgemeos terem proporções colossais, como seus murais pintados em fachadas de edifícios em Lisboa, Berlim, Mumbai ou Nova York, são os pequenos detalhes e as técnicas criadas pelos brasileiros – artistas autodidatas que nunca passaram por uma formação acadêmica formal – que tornam seu estilo tão original.

“O que faz o trabalho deles ser tão ímpar é que eles combinam certas tradições visuais múltiplas em algo que é completamente distinto,” diz Marina Isgro. “Eles combinam, obviamente, a cultura hip-hop de Nova York dos anos 70 e 80, com alguns elementos brasileiros e da ficção científica, por exemplo, para construir esse mundo tão completo. Eles conseguem imaginar todos os detalhes desse universo e acredito que é isso que faz a obra deles ser tão fascinante para os visitantes.”

Uma das técnicas características de osgemeos é o uso de um traço bem fino para contornar as figuras humanas e objetos retratados. Há também um cuidado minucioso de desenvolvimento das estampas das roupas dos personagens. E para quem tem um olhar mais apurado, é fácil reconhecer nas obras as referências culturais ao país natal.

“Os elementos brasileiros estão em diversos lugares, como no uso de oratórios, em que pintaram seus personagens dentro, ou ainda, nas tradicionais molduras de retratos familiares do passado, que eles costumavam ver na casa da avó,” destaca a curadora. “A maneira como eles conseguem capturar elementos da cultura, integrando tão perfeitamente no estilo deles, é muito divertida.”

Para os irmãos, trazer o Brasil para o cenário da arte contemporânea internacional é muito importante.

“Essa exposição não é só para a gente, mas para o Brasil. Abrindo uma exposição desse tamanho aqui, não estamos abrindo portas só para nós, mas para toda uma nova geração de artistas que sofrem com o preconceito da arte da rua, do grafitti.”

“É sempre uma barreira, e ao quebrá-la vamos trazendo essas pessoas junto. Assim como outros fizeram antes, permitindo à gente chegar aqui.”

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